27 janeiro 2025

OPINIÃO: GODEIRO LINHARES: Brasil critica deportações dos EUA enquanto ignora presos de 8 de janeiro: uma contradição?

Imagem: Reprodução

Nas últimas semanas, o governo brasileiro, ministros de Estado e grande parte da imprensa têm criticado veementemente o governo dos Estados Unidos pelas deportações em massa realizadas em meados de janeiro. As ações do governo norte-americano, que envolveram a repatriação de milhares de imigrantes, incluindo brasileiros, foram classificadas por autoridades nacionais como “crimes contra a humanidade” e “excessos que ferem os direitos humanos”. A indignação repercutiu fortemente, gerando debates sobre os limites das políticas migratórias e o tratamento dado aos deportados.

De acordo com o governo brasileiro, as deportações realizadas por Washington evidenciam uma postura desumana, com relatos de imigrantes algemados e transportados sob condições consideradas degradantes. “É inaceitável que pessoas sejam tratadas dessa maneira, especialmente quando buscam melhores condições de vida”, afirmou um ministro em entrevista recente. As críticas foram amplificadas por jornais e emissoras de televisão, que destacaram o sofrimento dos deportados e denunciaram o que chamaram de “abusos sistemáticos” por parte do governo dos EUA.

A contradição interna

No entanto, enquanto o Brasil acusa os Estados Unidos de violações aos direitos humanos, um debate paralelo e igualmente urgente permanece praticamente ignorado: a situação dos presos de 8 de janeiro. Um ano após os atos que ficaram marcados como um divisor de águas na política brasileira, centenas de cidadãos ainda permanecem encarcerados, muitos sem julgamento. Entre os detidos, há relatos de pessoas que estavam apenas orando, lendo a Bíblia ou protestando de forma pacífica por liberdade.

Apesar de a Constituição garantir o direito à manifestação, essas prisões em massa têm sido alvo de críticas de grupos de direitos humanos e juristas que apontam para o risco de criminalização de práticas legítimas. Para muitos desses presos, a justiça brasileira ainda não forneceu uma resposta clara sobre as acusações ou o devido processo legal. “Não estamos falando de pessoas violentas ou que depredaram patrimônio público. Muitos sequer estavam no local dos atos mais graves”, destacou um advogado de defesa.

Se nos Estados Unidos os deportados foram enviados de volta ao Brasil e agora estão em suas casas, ainda que sob forte vigilância e monitoramento, os brasileiros presos por sua participação nos atos de 8 de janeiro permanecem atrás das grades. Este contraste gerou críticas de setores da sociedade que enxergam hipocrisia na postura do governo e da mídia ao darem mais atenção aos deportados do que aos próprios cidadãos brasileiros em situação de vulnerabilidade jurídica.

A crítica negligenciada

Pouco se fala na imprensa sobre as condições dos detidos de 8 de janeiro, enquanto as deportações americanas dominam os noticiários. Aparentemente, há uma seletividade no debate sobre direitos humanos, onde a narrativa escolhida prioriza temas de política externa em detrimento de questões internas igualmente graves. Essa postura gera indignação entre famílias dos presos e críticos do governo, que veem na omissão um sinal de desprezo pelos valores de liberdade e justiça.

“É irônico e revoltante que o governo fale em ‘crimes contra a humanidade’ em outro país, mas feche os olhos para o que acontece dentro de suas próprias fronteiras. Há brasileiros detidos por crimes que não cometeram, e a situação permanece sem solução”, afirmou um parlamentar de oposição.

O peso das prioridades

A crítica final que emerge desse cenário é a aparente falta de coerência do governo e da mídia brasileira. Enquanto os deportados dos Estados Unidos são apresentados como vítimas de uma política dura e desumana, os presos de 8 de janeiro seguem ignorados, sem julgamento e sem a mesma solidariedade pública. A luta pelos direitos humanos deveria ser universal e não seletiva, abrangendo tanto os brasileiros deportados quanto os presos em condições questionáveis no próprio país.

Resta saber se o governo brasileiro e a imprensa irão ajustar suas prioridades e dar a devida atenção aos cidadãos que aguardam justiça, ou se continuarão a se concentrar em narrativas externas, deixando de lado as questões internas que demandam respostas urgentes.

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📌Lembre-se: higienize as mãos sempre que necessário com água e sabão ou álcool em gel

2 comentários:

  1. Muito bom e justo o texto! Gostei, viu!

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  2. Excelente reflexão. Precisamos definir se estamos ou não num Estado de Exceção.

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