Enquanto o governo Dilma Rousseff dá seus últimos suspiros, aliados da presidente começam a adotar posturas e a defender propostas há até pouco tempo rechaçadas por eles mesmos. Já dando como certa a aprovação do afastamento da petista pelo Senado, os defensores de Dilma vestem a camisa da oposição e dão o tom do discurso que devem fazer durante a provável gestão de Michel Temer. Nesta quarta-feira, houve até a defesa da redução de ministérios - medida que o atual governo, responsável pela inédita marca de 39 pastas, sempre rejeitou.
No plenário, a mudança de posição é visível. Durante a votação desta quarta-feira, a bancada do PT, que antes trabalhava para evitar o aumento de gastos em meio a um rombo bilionário nas contas públicas, passou a defender a aceleração das propostas que reajustam o salário de servidores de carreiras de estado. Para isso, eles recuaram até mesmo no chamado "kit obstrução" instalado por governistas para barrar a pauta. Houve espaço, ainda, para acenos aos servidores públicos que lotam as galerias.
Um dos últimos bastiões governistas, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) reconheceu que os governos de Lula e Dilma não alcançaram "tudo aquilo que desejávamos" para as carreiras de estado e adotou o tradicional discurso do medo, afirmando que Michel Temer ameaça o serviço público com uma agenda privatista.
O ex-ministro ainda usou a tribuna para fazer um apelo, "para o bem nacional", pela aprovação de medida que fixa em vinte o número máximo de ministérios. "Quero declarar o meu apoio à proposta", afirmou, desafiando o PMDB, autor da medida, a ter coerência e seguir a mesma posição. A proposta de emenda à Constituição (PEC) foi aprovada em comissão há um ano após dura obstrução de deputados do PT e aliados ao Planalto. Michel Temer chegou a alardear a redução da máquina pública em seu eventual governo, mas a pressão de partidos por cargos em troca de apoio já torna a medida inviável.
"Estou incrédulo ouvindo e vendo os discursos dos deputados do PT e seus ainda poucos aliados. Como o líder do PT vem para a tribuna dizer que deixaram de obstruir as medidas provisórias que foram editadas pelo seu governo? Isso é uma incoerência que não tem tamanho", afirmou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), acrescendo que o governo Dilma está em "estágio terminal"
Nesta quarta-feira, a bancada petista ainda se voltou contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Se antes Janot era acusado de proteger as principais estrelas do partido de Dilma, um dia depois de apresentar pedido de investigação contra Lula ele passou a ser alvo também do PT. Em nota, o líder Afonso Florence (BA) acusou o procurador de agir com "inaceitável seletividade". "Lamentavelmente, tudo indica que atos que deviam ser isentos, no âmbito do Ministério Público e do Judiciário, continuam contaminados por decisões que têm o único fim de alimentar disputas políticas", disse.
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