25 abril 2016

PMDB na mira da Lava Jato

BRASÍLIA — Integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato estão investigando aliados do vice-presidente Michel Temer, como os ex-ministros do Turismo Henrique Eduardo Alves (que já foi alvo de mandado de busca e apreensão) e da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Os investigadores já trabalham com a hipótese de que eles virem ministros num governo do PMDB. Assim, retomariam o foro privilegiado e passariam para a esfera do Supremo Tribunal Federal (STF) saindo da alçada do juiz Sérgio Moro.
Caso o deslocamento ocorra, Alves e Geddel se somarão a três alvos centrais da Lava-Jato, também próximos a Temer. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é réu numa ação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no esquema de desvios da Petrobras; denunciado em inquérito que apura quatro contas mantidas na Suíça; e investigado em outro procedimento devido a mais nove contas no exterior. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) é investigado no inquérito que apura formação de quadrilha e num segundo procedimento no STF. O senador Valdir Raupp (PMDB-RR) também é investigado por formação de quadrilha e alvo de um segundo inquérito.
Fontes com acesso às investigações relatam que o caso de Alves é o mais avançado. Em dezembro de 2015, quando era ministro do Turismo, a Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão em um apartamento dele, em Natal. Investigadores relatam haver indícios de uma atuação casada de Alves e Cunha na arrecadação de recursos para campanhas eleitorais. Essa é uma das linhas de investigação do inquérito aberto para investigar o presidente da Câmara a partir das delações premiadas dos donos da Carioca Engenharia. Os empreiteiros detalharam nove contas bancárias no exterior cujos depósitos teriam beneficiado Cunha.

TROCA DE MENSAGENS
A força-tarefa em Curitiba tem em mãos relatórios com as trocas de mensagens entre o ex-ministro do Turismo e executivos da construtora OAS. Pelo teor das mensagens, Alves promete favores à empresa em tribunais de contas. Os torpedos registram pedidos de doações a Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira. Henrique Alves foi derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte em 2014.
O caso de Geddel é semelhante. A força-tarefa em Curitiba também analisa a troca de mensagens entre ele e Léo Pinheiro. O GLOBO revelou, em janeiro, que o ex-ministro da Integração Nacional atuou na Caixa Econômica Federal, na Secretaria da Aviação Civil da Presidência e na prefeitura de Salvador para atender a interesses da OAS. Ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa.
Além do lobby no governo, Geddel pediu recursos à empreiteira para campanhas de aliados na Bahia e para sua candidatura derrotada ao Senado em 2014.
Já os senadores Jucá e Raupp são investigados no principal inquérito da Lava-Jato no STF, que apura formação de quadrilha. Além disso, cada um é alvo de um segundo inquérito. A PF apontou indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em pedido de doação de campanha em 2014 feito por Jucá ao dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa. Conforme relatório da PF, doações de R$ 3 milhões, solicitadas aos filhos de Jucá e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), podem se configurar propina de um pacote de R$ 30 milhões acertado entre o empreiteiro e o senador Edison Lobão (PMDB-MA).

PROPINA EM ANGRA 3



A PF sustenta que a propina teria sido acertada a partir de contrato obtido pela UTC nas obras da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis. Jucá também aparece nas trocas de mensagens dos executivos da OAS. Ele apresentou uma emenda a medida provisória de interesse da empreiteira, de acordo com os torpedos.
Jucá e Raupp, também foram citados na delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). Segundo Delcídio, propinas foram pagas a partir das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte para o “grupo de José Sarney, do qual fazem parte Edison Lobão, Silas Rondeau, Renan Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp e Jader Barbalho”. Delcídio fez menção aos ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, aliados de Temer. O senador afirmou que foi diretor de Gás e Energia da Petrobras com apoio do PMDB da Câmara e do Senado, o que incluiu Padilha e Moreira. 
(Colaborou Eduardo Bresciani)

INVESTIGADOS NEGAM QUE HAJA IRREGULARIDADES
O ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves afirmou que as doações recebidas por sua campanha foram legais. Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, negou ter recebido propina e disse que apresentou defesa sobre o caso em que é réu, refutando as acusações em relação às contas da Suíça. No caso da Carioca Engenharia, explicou que não há a atribuição das nove contas a ele.
— Toda arrecadação da nossa campanha está declarada no TSE. E assuntos do interesse do meu estado sempre tratei de forma institucional — disse Alves.
— Desminto toda acusação de recebimento de vantagem indevida — afirmou Cunha.
Eliseu Padilha ressaltou que em 1999 era ministro dos Transportes e que participou de uma reunião em que a indicação de Delcídio Amaral foi debatida:
— Não fiz indicação nenhuma. Numa reunião do partido (PMDB), eu estava casualmente lá, e o partido discutia se indicaria ou não para diretor. Não foi assinado nada. Foi uma indicação do partido, não minha.
O senador Romero Jucá informou que as doações respeitam a legislação e foram aprovadas. Ele nega que tenha recebido propina para incluir emendas a medidas provisórias.
O senador Valdir Raupp disse que as doações foram legais. Sobre a delação de Delcídio, informou que nunca fez indicações no setor elétrico. Moreira Franco disse que apoiou o nome de Delcídio para uma diretoria da Petrobras por ele ter sido um bom ministro de Minas e Energia no governo Itamar Franco. Geddel Vieira Lima não foi localizado. Em janeiro, disse ao GLOBO que considerava “natural” a proximidade com Léo Pinheiro, por ele ser um “um grande empresário”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário